Todo mundo é professor — BRASIL
TROCAS RECÍPROCAS DE SABERES
Grupos em que os alunos dão aulas uns para os outros estimula o respeito mútuo e pode ajudar na autoestima, responsabilidade e na aprendizagem O importante é a Troca Recíproca: quem aprende num dia, deve ensinar em outro.
Na classe de terceira série da Professora Maria de Lourdes Motta Ezequiel, do colégio particular Glória Nogueira Piquini de Carapicuíba (SP), todos os alunos têm seu dia de mestre.
Eles ensinam, uns aos outros, temas didáticos ou trabalhos manuais. “O objetivo é aumentar o respeito e a solidariedade entre as crianças”, diz a professora. Maria de Lourdes garante que o exercício funciona. “Os mais tímidos ganham autoconfiança” afirma. “E os mais bem sucedidos passam a respeitar os demais quando aprendem alguma coisa com eles”.
Reforço para as aulas
Os temas são definidos pelos alunos. Vale tudo, mas é importante incluir assuntos didáticos. “As próprias crianças costumam pedir para reforçar temas que estejam estudando”, conta a professora.
A atividade é uma aplicação prática do conceito de Rede de Troca Recíproca de Saber (criado por Claire Hebber-Suffrin da França). Freinet ainda não falava em REDE, mas já trabalhava com essa atividade nas classes. Ela pode ajudar na aprendizagem, porque às vezes um aluno não entende o professor, mas compreende o que o colega diz. O exercício de ensinar, por sua vez, reforça o que a criança já sabe e pode incentivá-la a aprender coisas novas, pelo prazer de repassá-las aos colegas.
Descubra a seguir como trabalhar com as “Trocas de Saber”.
Acompanhe todos os passos
O professor deixa de comandar a aula, mas deve ajudar a turma quando for preciso, nas diversas etapas do trabalho.
Antes de dar o sinal de partida, deve ser explicado aos alunos o que será feito.
Deve-se perguntar o que os alunos querem aprender. Depois deve ser visto quem pode ensinar. Essa ordem facilita a montagem dos grupos. Se alguma criança quer atuar somente como professor, diga-se-lhe que poderá ser bom também aprender alguma coisa. Agora, se outra criança nunca quiser dar aula, que seja ajudada a descobrir algo que possa ensinar.
Importante: os alunos não devem ser obrigados a participar. Quem não quiser entrar pode ficar lendo livros ou pode se dedicar a algum jogo ou desenho enquanto os demais se reúnem.
Deve ser marcada uma data para a atividade, em horários que já sejam normalmente usados para exercícios de reforço, de modo a não atrapalharem a rotina. A atividade de trocas de saber costuma demorar cerca de duas horas.
Escolha dos temas
Para organizar os grupos, toda segunda-feira, por exemplo, a professora expõe na sala de aulas um cartaz de cartolina, dividido em duas partes. Do lado esquerdo as crianças escrevem os assuntos que estão interessadas em aprender. O outro lado fica reservado para escrevem os assuntos que cada um poderia ensinar.
Durante a semana os “pequenos professores” se preparam. A troca de saber é feita na sexta-feira.
Definidos os grupos é hora da ação
Na sexta-feira, com a sala organizada para suas atividades, com os materiais necessários, nos horários definidos começa-se a trabalhar. Por exemplo, podem-se ter duas equipes na classe: enquanto que numa mesa uma aluna mostra para um grupo o pano de prato que acabou de aprender a fazer com uma das colegas, na outra equipe, outra guria ensina dobraduras numa outra mesa. Artesanato é um tema de grande interesse desenvolvendo a cultura artística.
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Registro dos trabalhos das equipes
Um dos alunos da sala, previamente escolhido, fotografa as etapas dos trabalhos. Cada dia será um fotógrafo diferente, pois assim muitos podem aprender a fotografar. Dessa maneira, poder-se-á produzir uma documentação imagética do trabalho. Numa turma de alunos maiores, pode-se ter, também, redatores que vão escrevendo acerca dos trabalhos que se realizam nas trocas de saber. Juntando-se fotos e redação pode-se compor um jornal, um fanzine ou um blog dos trabalhos.
Atividades finais
A turma pode montar uma exposição com os trabalhos das equipes. Para concluir todos podem ajudar a montar um álbum que vai mostrar passo a passo essa atividade de Troca Recíproca de Saberes, para que crianças de outras turmas e os pais possam conhecer o trabalho.
O registro de tudo o que se faz é uma prática básica da Pedagogia Freinet.
DICAS PARA MONTAR GRUPOS DE TROCAS
A) Explique aos alunos que nem tudo pode ser aprendido em classe. Não vale, portanto, pedir para aprender a dirigir carros ou outra coisa impossível;
B) A partir dos assuntos de interesse, ajude a encontrar quem possa ensinar. Se não houver ninguém apto na turma, chame um outro professor ou um pai ou mãe de aluno. Se toda a classe estiver interessada em aprender a mesma coisa, pose-se formar um único grupo naquele dia. Isso vai satisfazer os alunos e incentivá-los a repetir o exercício eles mesmos.
C) Ajude os professores mirins: sempre que for consultado prepare exercícios ou materiais com eles, ou, se for preciso, para dar mais autoconfiança, ensaie a aula com as crianças como se você fosse um aluno. Isso é positivo para sua relação com a turma.
D) Você também pode participar de uma das equipes, de preferência como aluno aprendiz.
E) Se algum aluno não estiver conseguindo ensinar, ajude-o sem deixar que ele perca o papel de professor.
O EXERCÍCIO DEMORA EM VIRAR ROTINA
O Ensino Mútuo não deve ser imposto nem ao que vai ensinar, nem aos que vão aprender.
A “rede de troca recíproca de saber mão se restringe à escola. Pode ser feita em qualquer grupo, pois todo mundo sabe alguma coisa e cada um também sempre quer aprender algo. “Quem passa um saber não perde nada de seu e quem recebe um saber fica com mais um saber na sua vida”, define Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora da Universidade Mútua, uma instituição que estimula a criação de redes de ensino mútuo e gratuito (em ligação com o Movimento RERSR, Reseau d´Echanges Réciproques de Savoirs com Claire Hebber Suffrin da França, e seu Movimento em vários paises).
Foi Rosa Maria quem coordenou e ensinou o pessoal do Colégio Glória Nogueira Piquini a utilizar assa prática. “Essa pedagogia exige entusiasmo e não pode ser imposta.” Comenta Rosa Maria. Maria José Piquini, diretora da escola, concorda: “Trabalhamos durante três anos até que a Troca de Saber se tornasse rotina no colégio”, conta, “valeu a pena insistir”.
Claire Hebber-Suffrin já esteve no Brasil para divulgar seu movimento e conhecer a Universidade Mútua (que no momento não está em atividade). O Movimento em São Paulo cresceu e atualmente temos uma Rede de Trocas de Produtos Saberes e Serviços que acontecem aos domingos, em vários bairros da periferia, com a participação de centenas de moradores que trazem seus produtos. É uma atividade que não trabalha com dinheiro, mas somente na base de trocas. Tudo é anualmente apresentado no Fórum Social Mundial, com a participação de Claire e dos coordenadores de São Paulo.
Em Agosto de 200,5 em Valbonne — França — houve um Congresso ICEM — Movimento Freinet —, e Claire foi uma das pessoas que estavam lá apresentando conferências, trabalhos e atividades, pois ela foi uma professora Freinet.
Anne Marie Milon, do nosso grupo Freinet do Brasil, teve o privilégio de participar desse Congresso com mais de 400 pessoas e proximamente nos passará notícias e informações sobre ele.
Rosa Maria Whitaker Sampaio
E-mail: rosamsampaio@uol.com.br
São Paulo, Novembro de 2005.
Revisado por Flávio Boleiz Júnior, em agosto de 2011.
Maravilhosa essa atividade para se fazer na sala de aula. Todos participam, se respeitam, trabalham em grupo, vivenciam o que o professor faz, se ajudam e tomam iniciativa, os mais tímido perdem a vergonha e os mais aptos se desenvolvem mais. Em geral todos se desenvolvem.
ResponderExcluirEsse tipo de trabalho melhora a escola, incentiva a crianças a estudarem mais e faz com que tenham vontade de apresentar ideias a respeito do ensino.
Essa pedagogia de Freinet deveria ter em todas as escolas, é um jeito rápido de melhorar o ensino de uma vez.
Bom, não é. Fazer a criança e o adolescente a se sentir útil, incentivando a ensinar o que sabe aos demais, pois cada um tem o seu jeito especial de aprimorar seus conhecimentos. É muito gratificante para o educador quando isso acontece. Eles passam menos tempo ociosos, pensando em bulling.
ResponderExcluirEssa prática deveria já estar acontecento a muito tempo.
Esse trabalho de troca de saberes é excelente para envolver a criança, o interesse em aprender mais e mais, dando á ela, a importância de poder ensinar outra criança.
ResponderExcluirProfessor Flavio gostaria de saber qual a idade ideal de trabalhar com a criança esta proposta?
Troca de Saber
ResponderExcluirO texto apresenta um conteúdo interessante que é a troca recíproca de saber, essa troca de saber adquiri melhor experiência tanto os que já tem facilidade quanto os que são menos desenvolvido no aprendizado ,como a professora relata no seguinte texto “quem passa um saber não perde nada de seu e quem recebe um saber fica com mais em saber na sua vida".
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAcredito que essa técnica nos ajudará muito,mas é algo que tem que ser bem elabórado como fala no texto não foi facíl coloca-la em prática,pois tem que ser organizada não só elo professor,mas também pelos alunos.Lendo esse texto da para notar a importÂncia de Freinet na pedagogia mesmo anos depois de sua atuaçao como professor.
ResponderExcluirMuito interessante essa atividade todos participam, issu incentiva o trabalho em equipe e os alunos que ensinam aprendem mais sobre responsabilidades.
ResponderExcluirEsta é uma excelente atividade,pois incentiva o aluno a expandir e compartilhar seu saber com a sala.Traz autoconfiança a turma,e desenvolve também o espírito de equipe;em conjunto eles produzem e trocam experiências.Poder construir conhecimento de forma dinâmica,saindo da rotina comum e monótona da maioria das escolas,é sem dúvida usar positivamente a proposta criativa de Freinet na prática pedagógica.
ResponderExcluirAcho que toda prática de encentivo de trabalho em grupo, é necessário para o aprendizado e fazer com que os alunos participem doando para outros o que sabem é prazeroso e traz grandes beneficios para alunos.
ResponderExcluirÉ muito importante ajudar uns aos outros passar o que sabe para seu colega é um ato de solidariedade e ver que a pessoa esta com dificuldade e poder ajuda-lo tirando as duvidas sobre os exercicios,isso tambem faz com que os alunos se interessem pelas aulas, e desenvolvam mais interesse pelo assunto.
ResponderExcluirGostaria de saber se a ideia troca de saberes continua funcionando com os alunos e/ou se a ideia saiu das escolas para outros espacos. Na Franca e na Suica a troca de saberes eh uma boa maneira de integrar jovens e idosos por exemplo, assim como pessoas de culturas diferentes.
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