sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Como Freinet vê o professor!

"... o professor, esse mago da cultura que é capaz de realizar sozinho o prodígio de ouvir cinco perguntas ao mesmo tempo e de a todas responder..." (FREINET, Élise. Nascimento de uma pedagogia popular - Os métodos freinet. p. 62, Lisboa (Portugal): Estampa, 1978.)

Sobre as escolas da cidade

"As escolas da cidade possuem uma atmosfera diferente das escolas da aldeia. Uma classe [...] integrada num conjunto de outras classes, tudo isso num mesmo local-caserna e por vezes sob a autoridade um tanto sombria de um diretor não tem a espontaneidade da escola aberta livremente à intimidade de uma aldeia. Os alunos parecem mais impessoais, dominados já por todas essas evasões como são o cinema, as saídas e as ocorrências da rua." (FREINET, Élise. Nascimento de uma pedagogia popular - Os métodos freinet. p.59, Lisboa (Portugal): Estampa, 1978.)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Troca de saber


Todo mundo é professor — BRASIL

TROCAS RECÍPROCAS DE SABERES
Grupos em que os alunos dão aulas uns para os outros estimula o respeito mútuo e pode ajudar na autoestima, responsabilidade e na aprendizagem O importante é a Troca Recíproca: quem aprende num dia, deve ensinar em outro.

Na classe de terceira série da Professora Maria de Lourdes Motta Ezequiel, do colégio particular Glória Nogueira Piquini de Carapicuíba (SP), todos os alunos têm seu dia de mestre.
Eles ensinam, uns aos outros, temas didáticos ou trabalhos manuais. “O objetivo é aumentar o respeito e a solidariedade entre as crianças”, diz a professora. Maria de Lourdes garante que o exercício funciona. “Os mais tímidos ganham autoconfiança” afirma. “E os mais bem sucedidos passam a respeitar os demais quando aprendem alguma coisa com eles”.

Reforço para as aulas
Os temas são definidos pelos alunos. Vale tudo, mas é importante incluir assuntos didáticos. “As próprias crianças costumam pedir para reforçar temas que estejam estudando”, conta a professora.
A atividade é uma aplicação prática do conceito de Rede de Troca Recíproca de Saber (criado por Claire Hebber-Suffrin da França). Freinet ainda não falava em REDE, mas já trabalhava com essa atividade nas classes. Ela pode ajudar na aprendizagem, porque às vezes um aluno não entende o professor, mas compreende o que o colega diz. O exercício de ensinar, por sua vez, reforça o que a criança já sabe e pode incentivá-la a aprender coisas novas, pelo prazer de repassá-las aos colegas.
Descubra a seguir como trabalhar com as “Trocas de Saber”.

Acompanhe todos os passos
O professor deixa de comandar a aula, mas deve ajudar a turma quando for preciso, nas diversas etapas do trabalho.
Antes de dar o sinal de partida, deve ser explicado aos alunos o que será feito.
Deve-se perguntar o que os alunos querem aprender. Depois deve ser visto quem pode ensinar. Essa ordem facilita a montagem dos grupos. Se alguma criança quer atuar somente como professor, diga-se-lhe que poderá ser bom também aprender alguma coisa. Agora, se outra criança nunca quiser dar aula, que seja ajudada a descobrir algo que possa ensinar.
Importante: os alunos não devem ser obrigados a participar. Quem não quiser entrar pode ficar lendo livros ou pode se dedicar a algum jogo ou desenho enquanto os demais se reúnem.
Deve ser marcada uma data para a atividade, em horários que já sejam normalmente usados para exercícios de reforço, de modo a não atrapalharem a rotina. A atividade de trocas de saber costuma demorar cerca de duas horas.

Escolha dos temas
Para organizar os grupos, toda segunda-feira, por exemplo, a professora expõe na sala de aulas um cartaz de cartolina, dividido em duas partes. Do lado esquerdo as crianças escrevem os assuntos que estão interessadas em aprender.  O outro lado fica reservado para escrevem os assuntos que cada um poderia ensinar.
Durante a semana os “pequenos professores” se preparam. A troca de saber é feita na sexta-feira.

Definidos os grupos é hora da ação
Na sexta-feira, com a sala organizada para suas atividades, com os materiais necessários, nos horários definidos começa-se a trabalhar. Por exemplo, podem-se ter duas equipes na classe: enquanto que numa mesa uma aluna mostra para um grupo o pano de prato que acabou de aprender a fazer com uma das colegas, na outra equipe, outra guria ensina dobraduras numa outra mesa. Artesanato é um tema de grande interesse desenvolvendo a cultura artística.
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Registro dos trabalhos das equipes
Um dos alunos da sala, previamente escolhido, fotografa as etapas dos trabalhos. Cada dia será um fotógrafo diferente, pois assim muitos podem aprender a fotografar. Dessa maneira, poder-se-á produzir uma documentação imagética do trabalho. Numa turma de alunos maiores, pode-se ter, também, redatores que vão escrevendo acerca dos trabalhos que se realizam nas trocas de saber. Juntando-se fotos e redação pode-se compor um jornal, um fanzine ou um blog dos trabalhos.

Atividades finais
A turma pode montar uma exposição com os trabalhos das equipes. Para concluir todos podem ajudar a montar um álbum que vai mostrar passo a passo essa atividade de Troca Recíproca de Saberes, para que crianças de outras turmas e os pais possam conhecer o trabalho.
O registro de tudo o que se faz é uma prática básica da Pedagogia Freinet.

DICAS PARA MONTAR GRUPOS DE TROCAS

A) Explique aos alunos que nem tudo pode ser aprendido em classe. Não vale, portanto, pedir para aprender a dirigir carros ou outra coisa impossível;
B) A partir dos assuntos de interesse, ajude a encontrar quem possa ensinar. Se não houver ninguém apto na turma, chame um outro professor ou um pai ou mãe de aluno. Se toda a classe estiver interessada em aprender a mesma coisa, pose-se formar um único grupo naquele dia. Isso vai satisfazer os alunos e incentivá-los a repetir o exercício eles mesmos.
C) Ajude os professores mirins: sempre que for consultado prepare exercícios ou materiais com eles, ou, se for preciso, para dar mais autoconfiança, ensaie a aula com as crianças como se você fosse um aluno. Isso é positivo para sua relação com a turma.
D) Você também pode participar de uma das equipes, de preferência como aluno aprendiz.
E) Se algum aluno não estiver conseguindo ensinar, ajude-o sem deixar que ele perca o papel de professor.

 O EXERCÍCIO DEMORA EM VIRAR ROTINA

O Ensino Mútuo não deve ser imposto nem ao que vai ensinar, nem aos que vão aprender.
A “rede de troca recíproca de saber mão se restringe à escola. Pode ser feita em qualquer grupo, pois todo mundo sabe alguma coisa e cada um também sempre quer aprender algo. “Quem passa um saber não perde nada de seu e quem recebe um saber fica com mais um saber na sua vida”, define Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora da Universidade Mútua, uma instituição que estimula a criação de redes de ensino mútuo e gratuito (em ligação com o Movimento RERSR, Reseau d´Echanges Réciproques de Savoirs com Claire Hebber Suffrin  da França, e seu Movimento em vários paises).
Foi Rosa Maria quem coordenou e ensinou o pessoal do Colégio Glória Nogueira Piquini a utilizar assa prática. “Essa pedagogia exige entusiasmo e não pode ser imposta.” Comenta Rosa Maria. Maria José Piquini, diretora da escola, concorda: “Trabalhamos durante três anos até que a Troca de Saber se tornasse rotina no colégio”, conta, “valeu a pena insistir”.

 Claire Hebber-Suffrin já esteve no Brasil para divulgar seu movimento e conhecer a Universidade Mútua (que no momento não está em atividade). O Movimento em São Paulo cresceu e atualmente temos uma Rede de Trocas de Produtos Saberes e Serviços que acontecem aos domingos, em vários bairros da periferia, com a participação de centenas de moradores que trazem seus produtos. É uma atividade que não trabalha com dinheiro, mas somente na base de trocas. Tudo é anualmente apresentado no Fórum Social Mundial, com a participação de Claire e dos coordenadores de São Paulo.
Em Agosto de 200,5 em Valbonne — França — houve um Congresso ICEM — Movimento Freinet —, e Claire foi uma das pessoas que estavam lá apresentando conferências, trabalhos e atividades, pois ela foi uma professora Freinet.
 Anne Marie Milon, do nosso grupo Freinet do Brasil, teve o privilégio de participar desse Congresso com mais de 400 pessoas e proximamente nos passará notícias e informações sobre ele.

Rosa Maria Whitaker Sampaio
São Paulo, Novembro de 2005.
Revisado por Flávio Boleiz Júnior, em agosto de 2011.




sexta-feira, 19 de agosto de 2011

INSCRIÇÃO PARA O FÓRUM DA REPEF

Faça já sua inscrição para o Fórum "Afinando os instrumentos", da Repef - Rede de educação e pesquisa em pedagogia freinet, que realizar-se-á no dia 7 de setembro de 2011, em Limeira - SP, no Cólégio Portinari.
Visite o link a seguir e inscreva-se:
https://boleiz.wufoo.com/forms/z7x3k7/

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Crianças ensinam crianças - jovens ensinam jovens


Rede de trocas de saberes na classe

As crianças e os jovens aprendem melhor quando exercem o papel de professor do que quando exercem o de alunos.

No quadro escolar...

Poderá ser: crianças maiores ensinando os menores, ou, na mesma classe crianças se ensinando mutuamente, ou uma criança ensina outra, ou uma criança ensina várias.

Fora do horário de aula: dar uma ajuda para os deveres de casa ou trabalhos sobre um projeto – quem sabe mais se oferece para ensinar quem sabe menos sobre determinado assunto e pede para o colega ensiná-lo em outro assunto numa troca recíproca de saberes. Paulo ensina Jonas a Geografia e Jonas ensina Paulo a fazer uma pipa.

O método de aquisição do saber baseado na assistência mútua é uma variante mais rica do que o método tradicional baseado na competição.

Nesse sistema de aquisição dos saberes a motivação não é ter conseguir melhores notas nem competir; mas estabelecer um meio de interação importante com os colegas.

Instrumentos de reflexão sobre seu saber e suas estratégias de aprendizagem:

I ) O aluno em dificuldade se caracteriza por:
        . A convicção de sua ignorância, de sua nulidade. Muitas vezes reflete a convicção da família de origem que vive o fracasso da criança ou do jovem como uma fatalidade.
      . Um não conhecimento de estratégias de aprendizagem.
      . A ignorância de que todo saber se constrói.

II) A rede, pela escolha  e a transmissão de saberes permite:
       . Adquirir um saber sobre seu saber (O saber não é mais somente aquilo que ele não sabe, mas também todas as experiências de sucessos já conseguidos, mas jamais nomeados como tais).
        . Desdramatizar o produto do saber.

Por meio da aprendizagem de que o saber se constrói, poder-se-á transmitir  saberes a outros, descobrindo-se que um saber se elabora:
- por ensaio e erros,
- com os outros (em Redes),
- aprendendo como ensinar, porque para se transmitir é preciso se questionar sobre onde e como se aprendeu; revisar e  remobilizar os saberes adquiridos para transmiti-los.

Um enriquecimento recebido é um empréstimo. Quem ensina não perde nada e quem recebe o ensinamento recebe alguma coisa.

Rosa Maria Sampaio ,  rosamsamp@uol.com.br – Grupo Freinet – S.Paulo – 1995
(Revisado por Flávio Boleiz Júnior – S. Paulo – 2011)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

...a psicologia sensível e a educação...

          [...]
     Às vezes falo do infinito, significando o vasto campo do insondável que exalta incessantemente o poder do homem, mas não faço dessa palavra um sinônimo de divindade transcendente que desde as alturas irradie uma luz revelada.

     Quando comparo com o destino humano a corrente em marcha, seguindo seu determinado curso, coloco nesta comparação algo mais que uma imagem poética mais ou menos démodé.

     A água, por seu fundamental papel de alimento, não é um corpo inerte. Sua plasticidade pode por si só explicar a plástica dos organismos de que é um componente determinante. A submissão da água à lei da gravidade equipara-se à mobilidade da vida submetida ao instinto no automatismo dos reflexos primordiais.

     Sei que outras imagens familiares correm o risco de dar às minhas demonstrações um simplismo que os letrados não deixariam de denunciar se por acaso me lessem. . Mas, a vida, por acaso, não é uma coisa simples e familiar para a criatura que por ela passa sem buscar nela os mistérios que o pretensioso espírito não é capaz de penetrar?

     A grande ignorância dos homens em relação à vida autoriza todas as diligências explicativas, inclusive as mais simples e as mais extravagantes. [...]

FREINET, Célestin.La psicología sensitiva y la educación. p. 13, Buenos Aires (Argentina): Troquel, 1969. (Tradução livre)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Regras votadas em conselho de classe


PEDAGOGIA FREINET

REGRAS VOTADAS EM CONSELHO DE CLASSE


DIREITOS

Temos o direito de mudar de lugar para trabalhar.

Temos o direito a ter calma para trabalhar.
Temos o direito de utilizar o material da classe.
Temos o direito de sermos ajudados pelo professor e pelos colegas.

DEVERES

Temos o dever de mudar de lugar sem incomodar os colegas.
Temos o dever de falar baixo durante o trabalho
Temos o dever de respeitar o material.
Temos o dever de ajudar os colegas em dificuldades.

Extrato das regras da classe da ECOLE OUVERTE ANGE-GUEPIN de Nantes, França 2003.



Rosa Maria Whitaker Sampaio —  Coord. PÓLO FREINET S.PAULO
 S.Paulo 28 de Março da 2005.


domingo, 24 de abril de 2011

CLASSES FREINET E A SOLIDARIEDADE ESSENCIAL



                          Rosa Maria Whitaker Sampaio
                            Revisão: Flávio Boleiz Júnior 

Célestin Freinet, educador Francês (1896 - 1966),  percebeu que somente a transmissão de conselhos técnicos corria o risco de ser insuficiente para se praticar a Pedagogia Freinet, se estes não fossem acompanhados de instruções mais exatas. Por isso ele organizou uma série de princípios que chamou de INVARIANTES PEDAGÓGICAS, são princípios que não variam seja qual for o povo que o aplica. Ele queria, assim, estabelecer uma nova gama de valores escolares, numa busca da verdade, que deveria ser feita à luz da experiência e do bom senso.
Freinet apresentou um teste para ser respondido pelo professor, de modo que este pudesse ter um parâmetro para sua prática pedagógica, percebendo a sua evolução sempre que repetisse o teste ao longo do ano escolar.


As três primeiras Invariantes da Pedagogia Freinet são sobre a natureza da criança.



Invariante nº1: A CRIANÇA E O ADULTO TÊM A MESMA NATUREZA.
"A criança é como uma árvore que, ainda não tendo terminado seu crescimento, se nutre, cresce e se defende exatamente como a árvore adulta."


Teste 


"Você tem se esforçado para aceitar esta Invariante." < sinal verde>
"Você reconhece esta Invariante, mas fica hesitante em colocá-la em prática."  <sinal amarelo> 

"No seu comportamento , você considera e age como se a criança tivesse natureza diferente da sua." < sinal vermelho>


Uma criança fica triste, chora , fica alegre, se espanta, se interessa, como um ser adulto. Não se pode esquecer disso em nenhum momento. O seu coração é igual ao nosso. É preciso  sempre  lembrar-se desse detalhe e tentar compreender a criança antes de julgá-la ou agir.


Invariante nº2: SER MAIOR NÃO SIGNIFICA NECESSARIAMENTE ESTAR ACIMA DOS OUTROS. Suprima o pedestal de professor, de repente você estará ao nível das crianças. Você as verá não com olhos de pedagogos e chefes, mas com olhos de homens e crianças, e com este ato você reduzirá seguidamente a perigosa separação que existe na escola tradicional."



Teste:



"Você se  coloca numa carteira igual à dos alunos e age no meio deles, assumindo todas as consequências pedagógicas que esse gesto pode causar." < sinal verde>

"Você suprime a disposição tradicional da classe que o destaca perante os alunos." <sinal amarelo>
"Você deixa as carteiras dos alunos e a sua mesa nas posições tradicionais."  <sinal vermelho>". 


Os meninos e meninas também devem pensar e agir como amigos, lembrando que,  ninguém está acima dos outros só porque é maior ou porque sabe um pouco mais. Cada  classe deve, sempre numa atitude  de solidariedade mútua,  ter momentos organizados  para conhecerem-se bem todos os colegas e passar o que sabem e o que podem aos  que  estão precisando de ajuda.


Invariante nº 3: O COMPORTAMENTO ESCOLAR DE UMA CRIANÇA DEPENDE DE SEU ESTADO FISIOLÓGICO E ORGÂNICO, DE TODA  A SUA CONSTITUIÇÃO. Em face às deficiências de comportamento que se  possa observar, consulte as crianças para saber se não existirão motivos de saúde, de equilíbrio, de dificuldades ambientais, que seria necessário examinar em primeiro lugar.


Teste: 


"Você tem conseguido descobrir razões sociais ou psicológicas para o comportamento perturbado de algumas crianças." <sinal verde>
"Você se interessa, mas não tem conseguido descobrir essas razões." <sinal amarelo>
"Você não leva em conta as dificuldades individuais de seus alunos." <sinal vermelho>

Na Pedagogia Freinet considera-se que uma classe de até 25 alunos é a mais importante   condição  para que tudo isso aconteça. Impor uma classe com mais de 25 alunos é sempre um desrespeito aos professores e aos alunos, que absolutamente não vão conseguir aprender e aos professores que não terão as condições mínimas para ensinar.


Experimentem fazer seus testes e depois  eu os convido a conhecer as outras invariantes da Pedagogia Freinet.
São 9 sobre as reações da criança, e 20 sobre as técnicas educativas, as técnicas de vida.

As Invariantes Pedagógicas de Freinet podem ser encontradas nos livros:

CABRAL, Maria Inez Cavalieri. De Rousseau a Freinet: Da teoria à prática. São Paulo: Hemus, 1978.

SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker. Freinet: Histórico e atualidades. São Paulo: Scipione, 1989.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Reflexões em torno da loucura de psicopatas assassinos

Flávio Boleis Júnior — Educador
08 de abril de 2011

     A escola é um lugar muito chato, inadequado e incrivelmente ultrapassado.

     O pior é que os indicadores de "qualidade" cada vez mais aceitos pela nossa sociedade vão ao encontro de uma escola emburrecedora, ao invés de propugnar um ambiente educador de verdade, onde a vida e a alegria de viver estejam presentes! Analisa-se a qualidade de uma escola pelos ranques de avaliação externa (saresp, saeb, enem, enade, pisa e outras tranqueiras mais), que são a perfeita louvação dos valores da "ética" capitalista, da competição — no lugar da cooperação —, da decoreba — no lugar da reflexão —, dos manuais escolares — agora travestidos de apostilas de "Anglo", "Etapa", "Positivo", "COC" e outras porcarias do tipo —, ao invés do trabalho transformador do mundo e da própria natureza humana no ambiente escolar.

     A Pedagogia da Escola Moderna (juntamente com algumas outras pedagogias libertadoras, democráticas e que respeitem os interesses reais da infância) oferece grande esperança de formação de sujeitos ativos, autônomos e responsáveis, verdadeiros cidadãos, homens e mulheres de bem; enfim, pessoas felizes!

     Nossa luta por uma Educação de verdade, com "E" e não com "e", é grande. Talvez precisássemos rever nossa ação na sociedade, nossas iniciativas de estudos entre docentes e educadores, nossos encontros, participações em congressos e fóruns de aprofundamento pedagógico. Precisamos ser mais ativos, mais propositores e divulgadores dessa pedagogia transformadora!

     Iniciativas como a da Escola Lellis do Amaral Campos, em Bebedouro (da diretora Carminha) com uma sala de aulas sem carteiras (que está dando excelente resultado); da Paidós, no México (da diretora Teresita), com seu replantio de árvores em conexão entre escola e comunidade; da Curumim em Campinas (da diretora Glaucia) com suas iniciativas amplamente participativas para as crianças desde a Educação Infantil na organização do tempo e espaço escolar; do Colégio Notre Dame, em Teresina (da diretora Waldília), com a assunção dos valores da Carta da Terra em atividades práticas e cotidianas; da Oca dos Curumins (da diretora Fátima), da Escola Cândido Portinari (Da diretora Magali) que trabalha a Pedagogia da Escola Moderna da Educação Infantil ao Ensino Médio e de tantas outras escolas que conhecemos, em que trabalhamos ou já visitamos, precisam ser mais conhecidas pelos educadores pelo mundo a fora! E a responsabilidade da divulgação, da propagação das ideias e dos ideais da Escola Moderna é inteiramente nossa! Ou tomamos as rédeas da transformação que queremos realizar, ou ficamos "a ver navios".

     Precisamos "derrubar a escola que temos para fazermos outra escola", como defendia Pistrak em seu livro "Fundamentos da Escola do Trabalho", que tanto influenciou Freinet!

     De resto, loucos, psicopatas, doentes mentais sempre haverá, em todas as sociedades! É claro que não podemos nos conformar com um massacre como o que acaba de ocorrer no Bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, mas nunca teremos como prever os atos perversos de pessoas doentes que sequer são donas de sua própria razão. Se realizarmos um bom trabalho, uma pedagogia do bom senso, uma boa educação, pode ser que auxiliemos a evitar que algumas pessoas mentalmente sãs adoeçam!

     Mas se pudermos, pelo menos, minimizar os traumas que a escola emburrecedora tem imposto aos sujeitos de nosso tempo, já estaremos trabalhando numa causa maravilhosa!

     Mãos à obra!

segunda-feira, 28 de março de 2011

PENSAMENTO DE FREINET



ORIGENS E PROLONGAMENTOS
DO PENSAMENTO DE FREINET[i]

(Textos de BT2 Bibliotheque de Travail
Publications d École Moderne Française - 1940)


As múltiplas fontes da Pedagogia Freinet

Algumas pessoas acreditam que diminuem os méritos de Freinet declarando que ele não inventou nada, que todas as suas técnicas foram preconizadas ou praticadas por outros antes dele. É um problema falso. Freinet jamais escondeu aquilo que ele devia a seus predecessores e sua originalidade é de assimilar aquilo que ele empresta, integrando com coerência na sua pedagogia.

A denominação ESCOLA MODERNA foi criada pelo revolucionário espanhol Francisco Ferrer[ii], fuzilado em 1909. Freinet juntou o qualificativo “Francesa” não por nacionalismo (nós podemos constatar o internacionalismo de seu movimento), para lembrar que além de todo modelo exterior, os educadores devem criar uma escola que corresponda, a cada momento, às necessidades dos jovens de meios diferentes.

A IMPRENSA data do século XV. Outras pessoas imprimiram com seus alunos antes de 1920 (Decroly[iii], por exemplo). Mas para Freinet o jornal não é uma atividade manual, nem o resultado de um trabalho, ele é o centro da vida escolar.

Para a LEITURA, Freinet se inspirou na noção de globalização trazida à luz por Decroly, mas ele colocou em primeiro plano a EXPRESSÃO DA CRIANÇA. Mostrou que os manuais de  leitura global caem nos mesmos problemas que os métodos silábicos ou mistos. O método global de Decroly praticamente desapareceu. Pode-se dizer a mesma coisa da desvirtualisação dos centros de interesse de Decroly pelos manuais escolares. Freinet usa a Expressão “complexo de interesses”[iv] para se corrigir dessa caricatura.

A COOPERATIVA ESCOLAR, criada por Barthélemy Profit[v] ultrapassou com Freinet a forma mutualista, para operar transferências de poderes na classe.

O JORNAL MURAL é inspirado nas técnicas de intimação utilizadas na Rússia Soviética e depois na China de Mao. Mas ele não é para Freinet um meio de manipulação de massas; no seio da classe ele permite a todos intervir e serem ouvidos.

O TRABALHO AUTOCORRETIVO é inspirado nas experiências de Winetca[vi], nos Estados Unidos, mas ele ‘usado numa perspectiva diferente como reforço de expressão livre.

AVALIAÇÃO. Ainda que Freinet seja crítico frente ao escotismo — com sua ideologia de chefe, seu uniforme e sua mentalidade de clã — ele não hesita em emprestar seu sistema de “Brevês” como avaliação.

E o que dizer de Pestalozzi, Makarenko, Dewey, Wallon, Claparède, e também os grandes Jean Piaget e Vygotsky.

Como se vê, Freinet está atento a tudo aquilo que possa se integrar à sua pedagogia. Ele não respeita nada por mera ideologia, mas cuida para que não haja efeitos perversos.

Apesar desse mosaico de contribuições, sua pedagogia tem a coerência de um organismo vivo.

A adaptabilidade se converte atualmente num dos imperativos de nosso ensino.
No passado, o mundo se modificava ao ritmo dos “séculos”: aquilo que se ensinava às crianças era ainda válido 30 anos mais tarde. O que ensinamos hoje, talvez não tenha muito significado em dois anos, ou num ano... Quando nossas crianças de 14 anos tiverem 18, serão soldados ou trabalhadores, aquilo que ensinamos estará caduco.

Esta é nova realidade em 1977. Por conseguinte, atualmente devemos nos preocupar menos em ensinar às crianças e jovens, noções, princípios e conhecimentos e nos preocupar muito mais em prepará-los para que se possam adaptar, com habilidade e inteligência, a um mundo em constante movimento, de modo que se integrem com maior facilidade. Precisamos elaborar processos eficientes que permitam tal adaptabilidade.

“A educação deve ser móvel e flexível na sua forma: deve necessariamente adaptar suas técnicas às necessidades variáveis da atividade e da vida humana. Mas nem por isso deve cumprir em menor medida seu papel duplo: exaltar no indivíduo o que ele possui de especificamente humano, essa parcela do divino que ilumina a razão de viver até nos piores momentos, e enriquecer e reforçar a base comum de conhecimentos e ideais que é, como nossa terra nutriz, o substrato essencial de nosso futuro. A educação deve, também, com muita dignidade, preparar tecnicamente o indivíduo para realização de suas tarefas imediatas. Um aspecto não existe separado do outro. Rebocos sem uma construção que os cubram são submetidos muito rapidamente pelo tempo desapiedado que destrói o inútil, nivela e recobre os cadáveres; a uma árvore são necessárias as raízes, e não poderemos conceber uma planta sem um tronco vivo que a sustente e dê uma razão de ser para suas funções. Alguns pensadores e pedagogos, como Rabelais, Montaigne, Rousseau, se conservaram atuais além dos séculos porque tinham adivinhado, alcançado, explorado essa trama do sentido comum, essa relação de uma chispa de eternidade. A nós compete incorporarmos a sua escola, recuperar essa chispa, amplificar todo o possível para que se animem as obras e as vidas”. (Célestin Freinet, na “Educação do trabalho”[vii])



[i] Traduzido e organizado por Rosa Maria Whitaker Sampaio e revisado por Flávio Boleiz Júnior.
[ii] O educador catalão Francisco Ferrer i Guardia fundou a escola anarquista que denominou “Escola Moderna” em 1901. Por apoiar todo o movimento revolucionário republicano durante o final do século 19 e início do século 20, por pressão da igreja católica espanhola, foi preso e condenado à morte, durante a lei Marcial de 1909.
[iii] Ovide Decroly foi um médico e educador belga, que participou ativamente do movimento Escola Nova.
[iv] Mesmo essa nomenclatura — “Complexo de interesses” — não foi criada por Freinet, mas por Pistrak — educador soviético, autor de Fundamentos da escola do trabalho, cuja escola foi visitada por Freinet quando de sua visita a Moscou, na década de 1920.
[v] Profit foi um pedagogo francês, criador do “ensino mútuo” e participante do movimento da educação cooperativa, no início do século 20.
[vi] Winetca é uma cidade do estado de Ilinóis, nos Estados Unidos, onde desenvolveram-se iniciativas de educação progressista que influenciou a Escola Moderna.
[vii] FREINET, Célestin. Educação do Trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

quinta-feira, 17 de março de 2011


A HISTÓRIA DE CELESTIN FREINET
SUA PEDAGOGIA SENSÍVEL E INOVADORA[i]

A proposta pedagógica criada por Célestin Freinet, embora tenha sido lançada há alguns anos, mais propriamente na década de 1920, permanece até hoje sem ser contemplada em sua total dimensão, nem pelos educadores nem pelos acadêmicos, por ser uma proposta avançada demais para o nosso século — quem nos fez esta proposição foi Paulo Freire, no II Seminário sobre Freinet realizado em Olinda.
Freinet conseguiu em sua coletânea de experiências nos proporcionar uma pedagogia arrojada, sensível, humana e nova, que nos dá a possibilidade de ver a criança como um todo, explorando ao máximo sua capacidade de desenvolver-se, enquanto ser social e individual.
Ainda pouco explorada, a Pedagogia de Freinet já tem, em nosso país, conquistas. A Escola Moderna está presente tanto na educação particular quanto nas instituições públicas, na escola como um todo, em alguns casos, ou somente em algumas salas de aula, em outros.
A Pedagogia de Freinet tem, aos poucos, conquistado um espaço. Não por modismo mas por ser, dentre tantas, uma proposta que atende a diferentes realidades, desde sua aplicação em escolas da Europa, África e do Oriente, até o interior do sertão nordestino brasileiro.
Abrangente em sua internacionalidade, ela busca, através do seu Método Natural de Aprendizagem e através de suas técnicas, a formação de homens e mulheres, seres íntegros, sociais e políticos, capazes de trilhar os seus destinos individual e socialmente.
É uma educação para a paz num mundo de guerras e ditaduras. Segundo Freinet, um pacifista convicto que viveu duas guerras, é indispensável praticar nas classes essa cultura para a paz.
Trata-se da paciente e tenaz educação para o respeito do “OUTRO”. O “OUTRO” é seu vizinho, seu colega de classe, seu amigo da torcida de futebol, que vivem hoje em dia um cotidiano quase tão perigoso e perverso quanto as crianças de Sarajevo, Jordânia, Timor Leste e hoje no Afeganistão, Libia e Israel.

Nós faremos um esforço para fazer de nossos alunos adultos conscientes e responsáveis, que construirão um mundo de onde serão proscritos a guerra, o racismo e todas as formas de discriminação e de exploração do homem.
Nós rejeitamos a ilusão de uma educação que baste a si mesma, à margem das grandes correntes sociais e políticas que a condicionam [...] (artigos 2 e 3 da Carta da Escola Moderna adotados em 1968)

UMA PEDAGOGIA


A Pedagogia da Educação Popular de Freinet é um marco inicial pela educação de hoje.
Os princípios e as técnicas pedagógicas seguintes inspiram a Pedagogia Freinet:

* Os Métodos Naturais de Aprendizagem asseguram a liberação de toda energia criadora e o respeito ao patrimônio cultural dos alunos e professores.
* O Tateamento Experimental e a Organização Planificada do Trabalho são introduzidos desde os primeiros anos de escola, ajudando a criança a desenvolver as suas aptidões para a pesquisa científica.
* A Valorização da Expressão Livre permite uma troca real entre as próprias crianças da turma e com as crianças de diferentes culturas, em todas as formas de expressão.
* A Organização Cooperativa da Classe contribui ativamente para com o desenvolvimento da socialização e da solidariedade entre as crianças, o respeito mútuo e a transferência de poderes.
* O Texto Livre, a Correspondência, a Imprensa, o Jornal Escolar, os Seminários de Alunos, os Meios Audiovisuais, assim como a aproximação crítica às novas tecnologias de comunicação e de produção, permitem à criança estar constantemente em contato com a realidade do mundo em marcha em pleno século XXI.
* A Pedagogia é atual, fundada sobre valores culturais — Responsabilidade, Autonomia, Cooperação e Solidariedade.
* A Pedagogia é centrada na criança, aquele que está aprendendo, levando em conta três componentes de sua personalidade: individualidade, diversidade e universalidade.
* A Pedagogia é aberta para o mundo exterior. A criança não vive só na escola, mas também na família, na sociedade. As técnicas Freinet dão grande importância à sua vida familiar, cultural, social e afetiva, permitindo-lhe falar, trazer propostas para o seu trabalho na escola, tendo como ponto de partida a sua própria vivência pessoal, sua família, seus amigos, sua comunidade.
* Ela fornece instrumentos e métodos de trabalho. No ano 2010, 75% das crianças que estão na escola atualmente trabalharão em profissões que não existem ainda. 90% das crianças trabalharão com máquinas ainda não inventadas. Por isso é vital ensinar a criança como aprender e essa é uma das nossas mais importantes tarefas.
* A Pedagogia abrange temas importantes da atual pesquisa em Ciência Educacional. Com a universidade de aprendizagem, as estratégias cognitivas personalizadas em multiplicidade de estímulos situacionais, buscando promover um meio seguro e estimulante a criança. Aprender significa fazer confrontação e oposição assim como a correção dos próprios erros.
* Freinet, através de sua Pedagogia, colocou a serviço da criança os meios mais modernos de comunicação. Quando ele introduziu a imprensa na classe, o mais importante não era o instrumento em si, mas o fato de possibilitar às crianças um meio que permitisse que elas se comunicassem com o mundo exterior, um público maior que a sua classe, a sua escola, a sua cidade.
Foi assim que, nas classes da Escola Moderna (Pedagogia Freinet), as crianças, começando em 1924 a manusear sozinhas a impressora com tipos de chumbo para fazer seus jornais, iniciaram uma prática que nunca mais parou, uma intercomunicação, uma correspondência inter-professores e inter-classes, que começou com essa impressora e depois com o limógrafo, o mimeógrafo, a fotografia, passando pelo rádio, o gravador, o cinema, chegaram ao vídeo, ao fax e às redes de informática, sempre bem antes de outros educadores.
Freinet, sempre curioso e criativo, e porque não dizer audacioso, via, nos instrumentos que ia conhecendo, a oportunidade para a criança colocar a mão na massa, pegar, sentir, tentar, tatear, trabalhar, compreender. Era uma forma de ampliar o campo para a expressão livre, multiplicando os caminhos para as intercomunicações. Significava desenvolver as capacidades, as competências, os saberes, os comportamentos, tendo essas técnicas como mediadoras das aprendizagens.
Com as cabeças — e as mãos — as crianças discutem, escolhem, decidem, aprendem, agem, avaliam, se comunicam e chegam ao sucesso.

A COMUNICAÇAO PELA EXPRESSÃO LIVRE


Quando Freinet, na década de 1920, trouxe para dentro da sua sala de aula, na sua aldeia no Sul da França, a primeira impressora, abriu espaço para que, anos mais tarde, ficasse muito claro que a criança podia acompanhar os avanços tecnológicos mundiais sem se afastar dos aspectos culturais, familiares e sociais que fazem parte da sua vida.
É uma Pedagogia atual que proporciona a comunicação pela expressão livre, por meio do vídeo, das policopiadoras, do fax, das redes de informática, da correspondência interescolar  e ínterdocente, dos multisuportes à multimídia
É notável como todos os suportes que surgem, favorecem novas formas de expressão e promovem novas formas de aprendizagem. Mas nenhum desses suportes substitui o seu antecedente. Todos se completam e ajudam a criança no seu processo de realização pessoal e na aquisição de novas competências no processo que fará com que cada um possa chegar ao sucesso. ISSO É ESSENCIAL.
O Movimento da Escola Moderna está há 70 anos pesquisando Didática, teórica e cientificamente, para a Educação. Os educadores do Movimento estão sempre mantendo em contato por cartas, e-mails, publicações, visitas, estágios, simpósios e encontros regionais e nacionais e, a cada dois anos, realizam a RIDEF — Reunião Internacional de Educadores Freinet, que tem lugar cada vez num país. A comunicação entre os educadores e a ajuda mútua é constante e é isso que faz sua grande riqueza.
A necessidade de compreender a afetividade e as relações sociais, buscando explicações além das terminologias da época, levaram Freinet intuitiva e pragmaticamente àquilo que Dewey, Piaget, Rogers e Ferrero vieram a confirmar cientificamente anos mais tarde.
Atualmente os educadores do mundo inteiro encontram-se face aos mesmos problemas. Cada um deles, em sua própria cultura, põe na prática e nos atos o que Freinet e os primeiros educadores da Escola Moderna fizeram.
Vê-se, claramente, que no alvorecer do Século XXI, a Pedagogia Freinet oferece respostas realistas e profundas às duas principais características de nossa época: A universalidade dos problemas e a necessidade da existência de um real respeito às diferenças de cada um.
Um cotidiano muitas vezes conflitivo, pesado com as ameaças de exclusão, mas no qual se delineiam, apesar de tudo, maneiras convergentes de se tentar construir a cultura da paz.
Os educadores Freinet que militam nos Movimentos da Escola Moderna estão convencidos de que a Pedagogia Freinet, viva e generosa, é portadora de uma educação popular, sinônima de esperança e de modernidade para o século XXI.
Em1958 Freinet dizia:
Não se esqueçam de que a Educação quer a Paz, que a preparação da guerra é a morte da escola, a destruição monstruosa do fruto do nosso trabalho. No combate pela Paz, devemos estar unidos pela mesma defesa de sua obra, as mães e os educadores, uns e outros criadores da vida, ferozes defensores de jovens seres, assegurando os seus passos no caminho que os leva para a sociedade.

 

CONHECENDO O EDUCADOR FREINET


Célestin Freinet foi um pedagogo humanista, autodidata, político e sindicalista que, em 40 anos de seu trabalho como educador em sala de aula, passou à prática as idéias de grandes pedagogos.

Em 1896, 15 de outubro, nasceu na França, na aldeia de GARS, nos Alpes-Marítimos.
Começou a trabalhar com educação em 1920. Durante a guerra de 1914 — a “Primeira Guerra Mundial — foi atingido por gases tóxicos, tendo como conseqüência problemas sérios de pulmões que o acompanharam por toda sua vida.
Com seu trabalho constante de cunho político, criou com a população de sua aldeia uma cooperativa que visava a vender os produtos da produção local. Este tipo de concepção social permeou toda a obra de Freinet sob o aspecto educacional e social, como veremos.
Em 1924, Freinet foi o pioneiro na utilização da imprensa na escola. Publicou, então, a primeira revista redigida e produzida pelas crianças a partir do texto livre, revista essa que é publicada até hoje: são as “BTs” — Bibliotheque de Travail. Realizou na mesma época a Primeira Correspondência Escolar, atividade que hoje está difundida em muitos países do mundo.
Em 1928 criou a CEL, Cooperativa de Ensino Laico, cuja função era gerir pedagógica e financeiramente a cinemateca, o rádio e a imprensa escolar, todos instrumentos usados em classe, uma  atitude revolucionária para a educação na época.
Foi nesse mesmo período que suas principais diretrizes pedagógicas tornaram-se mais claras. São elas:
- A COOPERAÇÃO,
- A PREEMINÊNCIA DE UTENSÍLIOS E DE TÉCNICAS NA APRENDIZAGEM,
- O RESPEITO À CRIANÇA,
- A MOTIVAÇÃO.
Em 1932 surgiram, também, a prática da Expressão Livre e as publicações dos “BTs”. Eram brochuras temáticas elaboradas pelas crianças para trabalhos individualizados ou não, que chegavam a outras classes por meio de assinaturas, tendo o seu custo muito menor do que o dos livros, que muitas crianças não poderiam comprar. Hoje essas brochuras chegam a centenas de milhares de estudantes, sobre todas as áreas de estudo, publicados pala PEMF — Presse Édition du Mouvement Freinet, disponíveis para quem se interessar em assinar
Em 1935 Freinet abriu um escola em Vence, junto a Saint Paul, onde acolheu crianças-problema de Paris e jovens refugiados espanhóis, vítimas da Guerra Civil.
Essa atitude se tornou uma característica peculiar do trabalho de Freinet, pois com sua Pedagogia arrojada e seu trabalho humano possibilitava que a educação atingisse a essas crianças e jovens que não portavam nenhum tipo de problema de ordem orgânica, senão um comprometimento emocional em maior ou menor grau pois, intuitivamente, Freinet já primava, em seu trabalho, pelo respeito à individualidade, à afetividade e às relações sociais que se travavam fora e dentro da  sala de aula.
Freinet viajava muito para conhecer o que estava acontecendo no campo da Educação. Esteve na União Soviética, em Congressos na Suíça e na Alemanha e esteve várias vezes na Espanha.
Com Romain Roland ele criou a Frente Popular da Infância para combater o crescimento do Fascismo. Essa Frente Popular da Infância deu ocasião para Freinet difundir sua Pedagogia Cooperativa.
Em 1940, durante a Segunda Grande Guerra, Freinet foi preso em um campo de concentração e todo o material de sua escola destruído. Conseguindo sair do Hospital onde estava quase à morte, com a ajuda dos educadores amigos, Freinet e sua mulher Élise, com sua filhinha Baloulette, passaram a viver escondidos com os Maquis — o movimento clandestino francês. Foi nesse período que Freinet começou a escrever os primeiros livros sobre sua Pedagogia.
Após a guerra, Freinet, com sua família, retornou a Vence e conseguiu reorganizar sua escola e seu grupo de militantes e começou a proferir uma série de conferências por vários países que iam mobilizando, cada vez mais, um número maior de adeptos ao que se chamou Movimento Freinet.
 Esse Movimento veio a dar origem, mais tarde, ao ICEM — Instituto Cooperativo da Escola Moderna, em 1948.
O ICEM tem como finalidade, a reflexão, a inovação pedagógica e a difusão da Pedagogia Freinet. Suas atividades são:
- Organização de estágios, oficinas e congressos nacionais e internacionais,
- Experimentação de materiais diversos,
- Difusão da Pedagogia Freinet por meio da PEMF — Presse Edition du Mouvement Freinet: publicações de livros, produções audiovisuais e inúmeras revistas que divulgam reflexões e práticas de classe de professores que quiserem publicar seus trabalhos; dossiês sobre os mais modernos pensamentos, reflexões e práticas em educação e os BTs.
O ICEM baseia a garantia ao respeito a seus objetivos e a seus estatutos por meio dos princípios da “Declaração da Escola Moderna”.
Freinet, nessa época, continuou fazendo visitas e a ser convidado para palestras e encontros em vários paises da Europa.
Em 1955 Freinet escreveu na revista L’Educateur, publicação da CEL, o artigo “25 alunos por classe”, começando corajosamente uma luta de 15 anos por aquilo que considerava um dos maiores obstáculos ao programa da escola: a superpopulação das classes.
Em 1957 foi criada a FIMEM Federação Internacional Dos Movimentos da Escola Moderna, que no momento tem 42 países como participantes, incluindo o Brasil.
Em 1966, no dia 8 de outubro, Freinet morreu em sua escola, em Vence, e foi enterrado em Gars, sua cidade Natal.
Sua mulher Élise assegurou a gestão da Escola de Vence, onde havia trabalhado com Freinet durante toda a sua vida, até morrer em 1981.
 Sua filha Madeleine Bens Freinet assumiu a escola até 1991, data quando a Escola Freinet de Vence foi resgatada pelo Estado como Patrimônio Nacional, com sérias garantias de reconhecimento da obra de Cè1estin e Élise Freinet.
É num vale do Sul da França que funciona até hoje a mais bela e comovente Escola Freinet, sempre visitada por educadores que chegam dos mais variados e distantes lugares do mundo, inclusive do Japão com avião fretado, como fazem também educadores de outros países.
Num documento único da história da educação, estão gravados os testemunhos de Célestin Freinet num CD compacto de uma hora. Esse Cd foi realizado pelo grupo da revista “Amis de Freinet”. Interrogado nos últimos anos de sua vida, Célestin Freinet se exprime sobre o essencial daquilo que infatigavelmente repetiu, modelando as orientações pedagógicas que influenciaram fortemente a escola da segunda metade do Século XX.
QUAIS FORAM SUAS MOTIVAÇÕES,  SEUS PASSOS?
COMO ELE SITUA A EDUCAÇÃO EM FACE DA EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE?
COMO SE CARACTERIZA UM MOVIMENTO COOPERATIVO DE EDUCADORES?
Suas propostas surpreendem muitas vezes pela sua atualidade.
Comemorando o Centenário de nascimento de Freinet, em 1996, foram realizadas muitas atividades pelo mundo e lançados vários livros sobre ele e seu trabalho. Um deles é Elise et Cèlestin Freinet: Souvenirs de notre vie, escrito pela sua filha Madeleine Freinet, publicado pela Editora Stock – França, Maio 1997.




[i] Revista L’Educateur — 1998, uma publicação de educadores para educadores — PEMF (Presse Edition du Mouvement Freinet). Tradução de Rosa Maria Whitaker Sampaio – Agosto de 2005
Revisão de Flávio Boleiz Júnior – Julho de 2009.