segunda-feira, 28 de março de 2011

PENSAMENTO DE FREINET



ORIGENS E PROLONGAMENTOS
DO PENSAMENTO DE FREINET[i]

(Textos de BT2 Bibliotheque de Travail
Publications d École Moderne Française - 1940)


As múltiplas fontes da Pedagogia Freinet

Algumas pessoas acreditam que diminuem os méritos de Freinet declarando que ele não inventou nada, que todas as suas técnicas foram preconizadas ou praticadas por outros antes dele. É um problema falso. Freinet jamais escondeu aquilo que ele devia a seus predecessores e sua originalidade é de assimilar aquilo que ele empresta, integrando com coerência na sua pedagogia.

A denominação ESCOLA MODERNA foi criada pelo revolucionário espanhol Francisco Ferrer[ii], fuzilado em 1909. Freinet juntou o qualificativo “Francesa” não por nacionalismo (nós podemos constatar o internacionalismo de seu movimento), para lembrar que além de todo modelo exterior, os educadores devem criar uma escola que corresponda, a cada momento, às necessidades dos jovens de meios diferentes.

A IMPRENSA data do século XV. Outras pessoas imprimiram com seus alunos antes de 1920 (Decroly[iii], por exemplo). Mas para Freinet o jornal não é uma atividade manual, nem o resultado de um trabalho, ele é o centro da vida escolar.

Para a LEITURA, Freinet se inspirou na noção de globalização trazida à luz por Decroly, mas ele colocou em primeiro plano a EXPRESSÃO DA CRIANÇA. Mostrou que os manuais de  leitura global caem nos mesmos problemas que os métodos silábicos ou mistos. O método global de Decroly praticamente desapareceu. Pode-se dizer a mesma coisa da desvirtualisação dos centros de interesse de Decroly pelos manuais escolares. Freinet usa a Expressão “complexo de interesses”[iv] para se corrigir dessa caricatura.

A COOPERATIVA ESCOLAR, criada por Barthélemy Profit[v] ultrapassou com Freinet a forma mutualista, para operar transferências de poderes na classe.

O JORNAL MURAL é inspirado nas técnicas de intimação utilizadas na Rússia Soviética e depois na China de Mao. Mas ele não é para Freinet um meio de manipulação de massas; no seio da classe ele permite a todos intervir e serem ouvidos.

O TRABALHO AUTOCORRETIVO é inspirado nas experiências de Winetca[vi], nos Estados Unidos, mas ele ‘usado numa perspectiva diferente como reforço de expressão livre.

AVALIAÇÃO. Ainda que Freinet seja crítico frente ao escotismo — com sua ideologia de chefe, seu uniforme e sua mentalidade de clã — ele não hesita em emprestar seu sistema de “Brevês” como avaliação.

E o que dizer de Pestalozzi, Makarenko, Dewey, Wallon, Claparède, e também os grandes Jean Piaget e Vygotsky.

Como se vê, Freinet está atento a tudo aquilo que possa se integrar à sua pedagogia. Ele não respeita nada por mera ideologia, mas cuida para que não haja efeitos perversos.

Apesar desse mosaico de contribuições, sua pedagogia tem a coerência de um organismo vivo.

A adaptabilidade se converte atualmente num dos imperativos de nosso ensino.
No passado, o mundo se modificava ao ritmo dos “séculos”: aquilo que se ensinava às crianças era ainda válido 30 anos mais tarde. O que ensinamos hoje, talvez não tenha muito significado em dois anos, ou num ano... Quando nossas crianças de 14 anos tiverem 18, serão soldados ou trabalhadores, aquilo que ensinamos estará caduco.

Esta é nova realidade em 1977. Por conseguinte, atualmente devemos nos preocupar menos em ensinar às crianças e jovens, noções, princípios e conhecimentos e nos preocupar muito mais em prepará-los para que se possam adaptar, com habilidade e inteligência, a um mundo em constante movimento, de modo que se integrem com maior facilidade. Precisamos elaborar processos eficientes que permitam tal adaptabilidade.

“A educação deve ser móvel e flexível na sua forma: deve necessariamente adaptar suas técnicas às necessidades variáveis da atividade e da vida humana. Mas nem por isso deve cumprir em menor medida seu papel duplo: exaltar no indivíduo o que ele possui de especificamente humano, essa parcela do divino que ilumina a razão de viver até nos piores momentos, e enriquecer e reforçar a base comum de conhecimentos e ideais que é, como nossa terra nutriz, o substrato essencial de nosso futuro. A educação deve, também, com muita dignidade, preparar tecnicamente o indivíduo para realização de suas tarefas imediatas. Um aspecto não existe separado do outro. Rebocos sem uma construção que os cubram são submetidos muito rapidamente pelo tempo desapiedado que destrói o inútil, nivela e recobre os cadáveres; a uma árvore são necessárias as raízes, e não poderemos conceber uma planta sem um tronco vivo que a sustente e dê uma razão de ser para suas funções. Alguns pensadores e pedagogos, como Rabelais, Montaigne, Rousseau, se conservaram atuais além dos séculos porque tinham adivinhado, alcançado, explorado essa trama do sentido comum, essa relação de uma chispa de eternidade. A nós compete incorporarmos a sua escola, recuperar essa chispa, amplificar todo o possível para que se animem as obras e as vidas”. (Célestin Freinet, na “Educação do trabalho”[vii])



[i] Traduzido e organizado por Rosa Maria Whitaker Sampaio e revisado por Flávio Boleiz Júnior.
[ii] O educador catalão Francisco Ferrer i Guardia fundou a escola anarquista que denominou “Escola Moderna” em 1901. Por apoiar todo o movimento revolucionário republicano durante o final do século 19 e início do século 20, por pressão da igreja católica espanhola, foi preso e condenado à morte, durante a lei Marcial de 1909.
[iii] Ovide Decroly foi um médico e educador belga, que participou ativamente do movimento Escola Nova.
[iv] Mesmo essa nomenclatura — “Complexo de interesses” — não foi criada por Freinet, mas por Pistrak — educador soviético, autor de Fundamentos da escola do trabalho, cuja escola foi visitada por Freinet quando de sua visita a Moscou, na década de 1920.
[v] Profit foi um pedagogo francês, criador do “ensino mútuo” e participante do movimento da educação cooperativa, no início do século 20.
[vi] Winetca é uma cidade do estado de Ilinóis, nos Estados Unidos, onde desenvolveram-se iniciativas de educação progressista que influenciou a Escola Moderna.
[vii] FREINET, Célestin. Educação do Trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

quinta-feira, 17 de março de 2011


A HISTÓRIA DE CELESTIN FREINET
SUA PEDAGOGIA SENSÍVEL E INOVADORA[i]

A proposta pedagógica criada por Célestin Freinet, embora tenha sido lançada há alguns anos, mais propriamente na década de 1920, permanece até hoje sem ser contemplada em sua total dimensão, nem pelos educadores nem pelos acadêmicos, por ser uma proposta avançada demais para o nosso século — quem nos fez esta proposição foi Paulo Freire, no II Seminário sobre Freinet realizado em Olinda.
Freinet conseguiu em sua coletânea de experiências nos proporcionar uma pedagogia arrojada, sensível, humana e nova, que nos dá a possibilidade de ver a criança como um todo, explorando ao máximo sua capacidade de desenvolver-se, enquanto ser social e individual.
Ainda pouco explorada, a Pedagogia de Freinet já tem, em nosso país, conquistas. A Escola Moderna está presente tanto na educação particular quanto nas instituições públicas, na escola como um todo, em alguns casos, ou somente em algumas salas de aula, em outros.
A Pedagogia de Freinet tem, aos poucos, conquistado um espaço. Não por modismo mas por ser, dentre tantas, uma proposta que atende a diferentes realidades, desde sua aplicação em escolas da Europa, África e do Oriente, até o interior do sertão nordestino brasileiro.
Abrangente em sua internacionalidade, ela busca, através do seu Método Natural de Aprendizagem e através de suas técnicas, a formação de homens e mulheres, seres íntegros, sociais e políticos, capazes de trilhar os seus destinos individual e socialmente.
É uma educação para a paz num mundo de guerras e ditaduras. Segundo Freinet, um pacifista convicto que viveu duas guerras, é indispensável praticar nas classes essa cultura para a paz.
Trata-se da paciente e tenaz educação para o respeito do “OUTRO”. O “OUTRO” é seu vizinho, seu colega de classe, seu amigo da torcida de futebol, que vivem hoje em dia um cotidiano quase tão perigoso e perverso quanto as crianças de Sarajevo, Jordânia, Timor Leste e hoje no Afeganistão, Libia e Israel.

Nós faremos um esforço para fazer de nossos alunos adultos conscientes e responsáveis, que construirão um mundo de onde serão proscritos a guerra, o racismo e todas as formas de discriminação e de exploração do homem.
Nós rejeitamos a ilusão de uma educação que baste a si mesma, à margem das grandes correntes sociais e políticas que a condicionam [...] (artigos 2 e 3 da Carta da Escola Moderna adotados em 1968)

UMA PEDAGOGIA


A Pedagogia da Educação Popular de Freinet é um marco inicial pela educação de hoje.
Os princípios e as técnicas pedagógicas seguintes inspiram a Pedagogia Freinet:

* Os Métodos Naturais de Aprendizagem asseguram a liberação de toda energia criadora e o respeito ao patrimônio cultural dos alunos e professores.
* O Tateamento Experimental e a Organização Planificada do Trabalho são introduzidos desde os primeiros anos de escola, ajudando a criança a desenvolver as suas aptidões para a pesquisa científica.
* A Valorização da Expressão Livre permite uma troca real entre as próprias crianças da turma e com as crianças de diferentes culturas, em todas as formas de expressão.
* A Organização Cooperativa da Classe contribui ativamente para com o desenvolvimento da socialização e da solidariedade entre as crianças, o respeito mútuo e a transferência de poderes.
* O Texto Livre, a Correspondência, a Imprensa, o Jornal Escolar, os Seminários de Alunos, os Meios Audiovisuais, assim como a aproximação crítica às novas tecnologias de comunicação e de produção, permitem à criança estar constantemente em contato com a realidade do mundo em marcha em pleno século XXI.
* A Pedagogia é atual, fundada sobre valores culturais — Responsabilidade, Autonomia, Cooperação e Solidariedade.
* A Pedagogia é centrada na criança, aquele que está aprendendo, levando em conta três componentes de sua personalidade: individualidade, diversidade e universalidade.
* A Pedagogia é aberta para o mundo exterior. A criança não vive só na escola, mas também na família, na sociedade. As técnicas Freinet dão grande importância à sua vida familiar, cultural, social e afetiva, permitindo-lhe falar, trazer propostas para o seu trabalho na escola, tendo como ponto de partida a sua própria vivência pessoal, sua família, seus amigos, sua comunidade.
* Ela fornece instrumentos e métodos de trabalho. No ano 2010, 75% das crianças que estão na escola atualmente trabalharão em profissões que não existem ainda. 90% das crianças trabalharão com máquinas ainda não inventadas. Por isso é vital ensinar a criança como aprender e essa é uma das nossas mais importantes tarefas.
* A Pedagogia abrange temas importantes da atual pesquisa em Ciência Educacional. Com a universidade de aprendizagem, as estratégias cognitivas personalizadas em multiplicidade de estímulos situacionais, buscando promover um meio seguro e estimulante a criança. Aprender significa fazer confrontação e oposição assim como a correção dos próprios erros.
* Freinet, através de sua Pedagogia, colocou a serviço da criança os meios mais modernos de comunicação. Quando ele introduziu a imprensa na classe, o mais importante não era o instrumento em si, mas o fato de possibilitar às crianças um meio que permitisse que elas se comunicassem com o mundo exterior, um público maior que a sua classe, a sua escola, a sua cidade.
Foi assim que, nas classes da Escola Moderna (Pedagogia Freinet), as crianças, começando em 1924 a manusear sozinhas a impressora com tipos de chumbo para fazer seus jornais, iniciaram uma prática que nunca mais parou, uma intercomunicação, uma correspondência inter-professores e inter-classes, que começou com essa impressora e depois com o limógrafo, o mimeógrafo, a fotografia, passando pelo rádio, o gravador, o cinema, chegaram ao vídeo, ao fax e às redes de informática, sempre bem antes de outros educadores.
Freinet, sempre curioso e criativo, e porque não dizer audacioso, via, nos instrumentos que ia conhecendo, a oportunidade para a criança colocar a mão na massa, pegar, sentir, tentar, tatear, trabalhar, compreender. Era uma forma de ampliar o campo para a expressão livre, multiplicando os caminhos para as intercomunicações. Significava desenvolver as capacidades, as competências, os saberes, os comportamentos, tendo essas técnicas como mediadoras das aprendizagens.
Com as cabeças — e as mãos — as crianças discutem, escolhem, decidem, aprendem, agem, avaliam, se comunicam e chegam ao sucesso.

A COMUNICAÇAO PELA EXPRESSÃO LIVRE


Quando Freinet, na década de 1920, trouxe para dentro da sua sala de aula, na sua aldeia no Sul da França, a primeira impressora, abriu espaço para que, anos mais tarde, ficasse muito claro que a criança podia acompanhar os avanços tecnológicos mundiais sem se afastar dos aspectos culturais, familiares e sociais que fazem parte da sua vida.
É uma Pedagogia atual que proporciona a comunicação pela expressão livre, por meio do vídeo, das policopiadoras, do fax, das redes de informática, da correspondência interescolar  e ínterdocente, dos multisuportes à multimídia
É notável como todos os suportes que surgem, favorecem novas formas de expressão e promovem novas formas de aprendizagem. Mas nenhum desses suportes substitui o seu antecedente. Todos se completam e ajudam a criança no seu processo de realização pessoal e na aquisição de novas competências no processo que fará com que cada um possa chegar ao sucesso. ISSO É ESSENCIAL.
O Movimento da Escola Moderna está há 70 anos pesquisando Didática, teórica e cientificamente, para a Educação. Os educadores do Movimento estão sempre mantendo em contato por cartas, e-mails, publicações, visitas, estágios, simpósios e encontros regionais e nacionais e, a cada dois anos, realizam a RIDEF — Reunião Internacional de Educadores Freinet, que tem lugar cada vez num país. A comunicação entre os educadores e a ajuda mútua é constante e é isso que faz sua grande riqueza.
A necessidade de compreender a afetividade e as relações sociais, buscando explicações além das terminologias da época, levaram Freinet intuitiva e pragmaticamente àquilo que Dewey, Piaget, Rogers e Ferrero vieram a confirmar cientificamente anos mais tarde.
Atualmente os educadores do mundo inteiro encontram-se face aos mesmos problemas. Cada um deles, em sua própria cultura, põe na prática e nos atos o que Freinet e os primeiros educadores da Escola Moderna fizeram.
Vê-se, claramente, que no alvorecer do Século XXI, a Pedagogia Freinet oferece respostas realistas e profundas às duas principais características de nossa época: A universalidade dos problemas e a necessidade da existência de um real respeito às diferenças de cada um.
Um cotidiano muitas vezes conflitivo, pesado com as ameaças de exclusão, mas no qual se delineiam, apesar de tudo, maneiras convergentes de se tentar construir a cultura da paz.
Os educadores Freinet que militam nos Movimentos da Escola Moderna estão convencidos de que a Pedagogia Freinet, viva e generosa, é portadora de uma educação popular, sinônima de esperança e de modernidade para o século XXI.
Em1958 Freinet dizia:
Não se esqueçam de que a Educação quer a Paz, que a preparação da guerra é a morte da escola, a destruição monstruosa do fruto do nosso trabalho. No combate pela Paz, devemos estar unidos pela mesma defesa de sua obra, as mães e os educadores, uns e outros criadores da vida, ferozes defensores de jovens seres, assegurando os seus passos no caminho que os leva para a sociedade.

 

CONHECENDO O EDUCADOR FREINET


Célestin Freinet foi um pedagogo humanista, autodidata, político e sindicalista que, em 40 anos de seu trabalho como educador em sala de aula, passou à prática as idéias de grandes pedagogos.

Em 1896, 15 de outubro, nasceu na França, na aldeia de GARS, nos Alpes-Marítimos.
Começou a trabalhar com educação em 1920. Durante a guerra de 1914 — a “Primeira Guerra Mundial — foi atingido por gases tóxicos, tendo como conseqüência problemas sérios de pulmões que o acompanharam por toda sua vida.
Com seu trabalho constante de cunho político, criou com a população de sua aldeia uma cooperativa que visava a vender os produtos da produção local. Este tipo de concepção social permeou toda a obra de Freinet sob o aspecto educacional e social, como veremos.
Em 1924, Freinet foi o pioneiro na utilização da imprensa na escola. Publicou, então, a primeira revista redigida e produzida pelas crianças a partir do texto livre, revista essa que é publicada até hoje: são as “BTs” — Bibliotheque de Travail. Realizou na mesma época a Primeira Correspondência Escolar, atividade que hoje está difundida em muitos países do mundo.
Em 1928 criou a CEL, Cooperativa de Ensino Laico, cuja função era gerir pedagógica e financeiramente a cinemateca, o rádio e a imprensa escolar, todos instrumentos usados em classe, uma  atitude revolucionária para a educação na época.
Foi nesse mesmo período que suas principais diretrizes pedagógicas tornaram-se mais claras. São elas:
- A COOPERAÇÃO,
- A PREEMINÊNCIA DE UTENSÍLIOS E DE TÉCNICAS NA APRENDIZAGEM,
- O RESPEITO À CRIANÇA,
- A MOTIVAÇÃO.
Em 1932 surgiram, também, a prática da Expressão Livre e as publicações dos “BTs”. Eram brochuras temáticas elaboradas pelas crianças para trabalhos individualizados ou não, que chegavam a outras classes por meio de assinaturas, tendo o seu custo muito menor do que o dos livros, que muitas crianças não poderiam comprar. Hoje essas brochuras chegam a centenas de milhares de estudantes, sobre todas as áreas de estudo, publicados pala PEMF — Presse Édition du Mouvement Freinet, disponíveis para quem se interessar em assinar
Em 1935 Freinet abriu um escola em Vence, junto a Saint Paul, onde acolheu crianças-problema de Paris e jovens refugiados espanhóis, vítimas da Guerra Civil.
Essa atitude se tornou uma característica peculiar do trabalho de Freinet, pois com sua Pedagogia arrojada e seu trabalho humano possibilitava que a educação atingisse a essas crianças e jovens que não portavam nenhum tipo de problema de ordem orgânica, senão um comprometimento emocional em maior ou menor grau pois, intuitivamente, Freinet já primava, em seu trabalho, pelo respeito à individualidade, à afetividade e às relações sociais que se travavam fora e dentro da  sala de aula.
Freinet viajava muito para conhecer o que estava acontecendo no campo da Educação. Esteve na União Soviética, em Congressos na Suíça e na Alemanha e esteve várias vezes na Espanha.
Com Romain Roland ele criou a Frente Popular da Infância para combater o crescimento do Fascismo. Essa Frente Popular da Infância deu ocasião para Freinet difundir sua Pedagogia Cooperativa.
Em 1940, durante a Segunda Grande Guerra, Freinet foi preso em um campo de concentração e todo o material de sua escola destruído. Conseguindo sair do Hospital onde estava quase à morte, com a ajuda dos educadores amigos, Freinet e sua mulher Élise, com sua filhinha Baloulette, passaram a viver escondidos com os Maquis — o movimento clandestino francês. Foi nesse período que Freinet começou a escrever os primeiros livros sobre sua Pedagogia.
Após a guerra, Freinet, com sua família, retornou a Vence e conseguiu reorganizar sua escola e seu grupo de militantes e começou a proferir uma série de conferências por vários países que iam mobilizando, cada vez mais, um número maior de adeptos ao que se chamou Movimento Freinet.
 Esse Movimento veio a dar origem, mais tarde, ao ICEM — Instituto Cooperativo da Escola Moderna, em 1948.
O ICEM tem como finalidade, a reflexão, a inovação pedagógica e a difusão da Pedagogia Freinet. Suas atividades são:
- Organização de estágios, oficinas e congressos nacionais e internacionais,
- Experimentação de materiais diversos,
- Difusão da Pedagogia Freinet por meio da PEMF — Presse Edition du Mouvement Freinet: publicações de livros, produções audiovisuais e inúmeras revistas que divulgam reflexões e práticas de classe de professores que quiserem publicar seus trabalhos; dossiês sobre os mais modernos pensamentos, reflexões e práticas em educação e os BTs.
O ICEM baseia a garantia ao respeito a seus objetivos e a seus estatutos por meio dos princípios da “Declaração da Escola Moderna”.
Freinet, nessa época, continuou fazendo visitas e a ser convidado para palestras e encontros em vários paises da Europa.
Em 1955 Freinet escreveu na revista L’Educateur, publicação da CEL, o artigo “25 alunos por classe”, começando corajosamente uma luta de 15 anos por aquilo que considerava um dos maiores obstáculos ao programa da escola: a superpopulação das classes.
Em 1957 foi criada a FIMEM Federação Internacional Dos Movimentos da Escola Moderna, que no momento tem 42 países como participantes, incluindo o Brasil.
Em 1966, no dia 8 de outubro, Freinet morreu em sua escola, em Vence, e foi enterrado em Gars, sua cidade Natal.
Sua mulher Élise assegurou a gestão da Escola de Vence, onde havia trabalhado com Freinet durante toda a sua vida, até morrer em 1981.
 Sua filha Madeleine Bens Freinet assumiu a escola até 1991, data quando a Escola Freinet de Vence foi resgatada pelo Estado como Patrimônio Nacional, com sérias garantias de reconhecimento da obra de Cè1estin e Élise Freinet.
É num vale do Sul da França que funciona até hoje a mais bela e comovente Escola Freinet, sempre visitada por educadores que chegam dos mais variados e distantes lugares do mundo, inclusive do Japão com avião fretado, como fazem também educadores de outros países.
Num documento único da história da educação, estão gravados os testemunhos de Célestin Freinet num CD compacto de uma hora. Esse Cd foi realizado pelo grupo da revista “Amis de Freinet”. Interrogado nos últimos anos de sua vida, Célestin Freinet se exprime sobre o essencial daquilo que infatigavelmente repetiu, modelando as orientações pedagógicas que influenciaram fortemente a escola da segunda metade do Século XX.
QUAIS FORAM SUAS MOTIVAÇÕES,  SEUS PASSOS?
COMO ELE SITUA A EDUCAÇÃO EM FACE DA EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE?
COMO SE CARACTERIZA UM MOVIMENTO COOPERATIVO DE EDUCADORES?
Suas propostas surpreendem muitas vezes pela sua atualidade.
Comemorando o Centenário de nascimento de Freinet, em 1996, foram realizadas muitas atividades pelo mundo e lançados vários livros sobre ele e seu trabalho. Um deles é Elise et Cèlestin Freinet: Souvenirs de notre vie, escrito pela sua filha Madeleine Freinet, publicado pela Editora Stock – França, Maio 1997.




[i] Revista L’Educateur — 1998, uma publicação de educadores para educadores — PEMF (Presse Edition du Mouvement Freinet). Tradução de Rosa Maria Whitaker Sampaio – Agosto de 2005
Revisão de Flávio Boleiz Júnior – Julho de 2009.